"E quando à tua frente se abrirem muitas estradas e não souberes a que hás-de escolher, não metas por uma ao acaso, senta-te e espera. Respira com a mesma profundidade confiante com que respiraste no dia em que vieste ao mundo, e sem deixares que nada te distraia, espera e volta a esperar. Fica quieta, em silêncio, e ouve o teu coração. Quando ele te falar, levanta-te, e vai para onde ele te levar"
Li parte deste livro em miúda e desisti. Não me dizia nada. Acho curioso que o livro seja precisamente sobre isso. Sobre como quando somos mais velhos temos sensibilidade e maturidade para ver e sentir as coisas de maneira diferente.
Uma avó escreve à neta sobre si e a relação entre elas, sobre a sua vida, sobre a perda trágica da filha, sobre o seu grande amor, sobre esta viagem interna e externa que nos modifica ao longo do tempo.
Uma escrita despojada de artifícios, mas plena de intensidade, que me comoveu de forma profunda.
"There was nothing in life harder or more important than agreeing every morning to stay the course, to go back to your forgotten self of so many years ago, and to make the same decision. Marriages, like ships, needed steering, and steady hands at the wheel.”
The Vacationersconta-nos as férias de uma família nova-iorquina em ponto de ruptura. Duas semanas em Maiorca que vão mudar o curso da vida de todos.
Este é um livro sobre casamento, sobre amizade, sobre a adolescência e a perca da inocência, sobre paternidade, sobre crescer e tornarmo-nos adultos. No fundo é sobre as relações entre pessoas e tudo o que de bom e de mau se sofre, desfruta e aprende com elas. Porque é preciso seguir em frente, de uma maneira ou de outra. At end, vai ficar sempre tudo bem.
“Percebi então que era precisamente isso que a Tia Ifeoma fazia com os meus primos: colocar-lhes a barra cada vez mais alto através da maneira como falava com eles, através do que esperava deles. Fazia-o sempre com a convicção de que saltariam por cima da barra. E eles saltavam. Comigo e com o Jaja era diferente: não saltávamos por cima da barra por estarmos convencidos de que éramos capazes, fazíamo-lo porque tínhamos pavor de não conseguir.”
A Chimamanda Ngozi Adichie é uma extraordinária contadora de histórias. A Cor do Hibiscoconta-nos a história de Kambili e Jaja, dois irmãos filhos de um típico homem grande da Nigéria, que entre outras particularidades é extremamente religioso, a um nível muito próximo da loucura e obsessão religiosa. A primeira parte da história é pautada pelo silêncio, pela repressão, pelo medo que se vive na casa onde Kambili, Jaja e a sua mãe, Beatrice, vivem “em bicos dos pés” tentando não pisar os sensíveis calos de Eugene. A escritora é mestra em descrever a situação familiar onde tantas vezes se confunde violência com dedicação e preocupação, e onde a falta de auto estima faz com que práticas de verdadeiro horror se tornem aceitáveis. Muitas vezes me senti a deixar de respirar, a temer que o pai deles aparecesse, tal é o poder das descrições. O segundo momento da história é desencadeado pelo aparecimento da Tia Ifeoma, uma mulher independente, viúva, cuja abordagem educativa dos próprios filhos é completamente oposta à do irmão. Este novo tipo de vivência desperta nos dois irmãos uma total perplexidade que rapidamente se transforma em algo confortável e posteriormente desencadeia a revolta e o confronto. Como pano de fundo a escritora descreve um golpe de estado na Nigéria e todos os acontecimentos que dele derivam. Os subornos, a falta de condições de vida, as manifestações de estudantes… Mas centramo-nos no crescimento destas duas personagens, que aprendem a olhar para os outros para se descobrirem a si mesmos, como botões de hibisco que se abrem para receber o sol. É sem dúvida uma história maravilhosa pelo pulso da talentosa Chimamanda Ngozi Adichie.
“subiu as escadas, chegou com o marido ao terraço, o GaloCamões acordou e veio espreitar curioso, mas como ninguém lhe desse atenção ou sequer olhasse para ele, evitou fazer ruído e voltou ao seu canto
- deixa-me aqui, por favor
- aqui onde?, não te posso largar assim
- amarra-me aqui nestas antenas, fico aqui na berma, a olhar a cidade
Xilisbaba atou-o a uma antena, deu três nós e sentiu medo por aceder àquele pedido
E se o marido se soltasse?, e se um vento mais forte o visitasse durante a noite?, e se os nós na antena ou mesmo no tornozelo não fossem suficientemente fortes e o marido desatasse a esvoaçar pelos céus de Luanda?
- ficas bem? tenho medo de te deixar assim, Nato
- fico bem
- tás bem amarrado?
- estou, sim, Baba: é a saudade que me amarra a esta cidade…”
Os transparentes é sobre os Angolanos, corrijo, sobre os Caluandas, sobre aquela maneira de ser muito própria, para o bom e para o mau. Mas principalmente é sobre a saudade, dos tempos, de outro mundo que não aquele em que somos forçados a viver. E é bom desde a primeira à última palavrinha. Descrições tão maravilhosas que sabem e cheiram a coisas boas. E assim de um jeito doce, cheio de ginga, Ondjaki faz duras críticas ao governo angolano, aos camaradas, a uma realidade que está a anos luz da nossa, embora as duas se toquem em pontos fundamentais, a dignidade, o respeito, a humanidade. É difícil ter de fechar o livro e não saber mais sobre toda aquela gente na Maianga que começava a fazer sentir-se família.
Ora bem, começo por dizer que este livro é fruto do meu love affair com o Book Depository. Se não conhecem e gostam de ler livros em inglês, este site é qualquer coisa. Bons preços e edições maravilhosas. Obrigada pela dica, P. :)
Mr.Penumbra's 24 Hour Bookstore é o casamento perfeito entre dois universos que me fascinam: o dos livros e o tecnológico, cruzando o percurso milenar de uma sociedade secreta de livros com a mais recente tecnologia da Google, realidade virtual and so on.
Nesta pequena livraria, aberta 24 horas, não existem os livros mais populares e comerciais mas uma coleção de livros interdita e inacessível ao comum mortal. É preciso pertencer ao clube. É preciso manter um registo atualizado de todos os aspectos físicos e psicológicos de quem os requista, em todas as requisições. O responsável pela livraria, encarregue do registo, também não pode abrir estes misteriosos volumes, requisitados por estranhos personagens a altas horas da madrugada.
Acontece que o mais recente responsável e personagem principal da obra, é um millennial, um webdesigner desempregado, que resolve promover a loja no Google e criar um modelo virtual da livraria, com um registo online de todas as requisições, descobrindo assim um estranho padrão de acontecimentos que o vai levar na maior aventura da sua vida.
É uma história surpreendente e cativante, que vos fará repensar a relação entre dois formatos aparentemente opostos.
P.S: Se comprarem esta edição que veem na imagem, experimentem olhar para ela no escuro. ;)
“People generally see what they look for, and hear what they listen for.”
Escrito por Harper Lee, To Kill a Mockingbird baseia-se nas observações da escritora, enquanto criança, dos seus vizinhos e terra natal, em especial de um acontecimento marcante que ocorreu aos seus dez anos de idade. Depois de ver o filme Capote, que decorreu durante o período no qual a autora se encontra a escrever o livro,fiquei com muita vontade de o ler. O facto de ser considerado um livro marcante na cultura literária americana já indiciava a sua qualidade, mas eu tinha sobretudo aquele feeling,que infelizmente não surge frequentemente, de que este ia ser um livro mesmo, mesmo bom. E foi. Foi ainda melhor. Harper Lee é mestra a descrever a cidadezinha de Maycomb, Alabama, e os seus habitantes. As regras e costumes sulistas. Este é um romance que fala sobre o preconceito racial e o fim da inocência, na voz de uma criança que fala e age como uma criança, bem diferente da precoce Anne Frank e sem quaisquer indícios de paternalismo. O livro foi extremamente bem sucedido e continua a ser utilizado nas escolas até aos dias de hoje para ensinar os alunos a serem mais tolerantes, a terem mais compaixão. Ainda bem.
To Kill a Mockingbird fala-nos ao coração, da forma mais simples e honesta. Fica mais do que recomendado.