“A rat in a maze is free to go anywhere, as long as it stays inside the maze.”
The Handmaid's Tale ou O Conto da Aia foi das melhores distopias que li nos últimos tempos. Conta-nos a história de uma mulher, no futuro, criada especificamente para procriar, que é mantida em casa dos seus proprietários como uma tábua de passar a ferro que se coloca na despensa e só se tira quando é precisa. A sociedade machista triunfou, o dinheiro e o poder são retirados às mulheres, a população é dividida em classes, identificadas pela cor do vestuário. Se gostam deste tipo de histórias, não podem perder esta.
Momento arrepiante: com o Trump a vencer na América e a extrema-direita a triunfar na Europa, já não me parece um futuro assim tão longíquo e impossível.
Sinto que já cheguei atrasada à festa da Elena Ferrante, mas mais vale tarde do que nunca.
Comecei com este primeiro capítulo da amizade entre Lila e Elena, que ocupará ainda três outros livros. A minha expectativa era tão alta que talvez tenha contribuído para um primeiro impacto pouco emocionante. Mas persisti e fui lendo a história destas duas personagens tão distintas e, ao mesmo tempo, interdependentes.
Devo dizer que a autora capta como poucos a complexidade de uma amizade entre duas mulheres. E foi isso que mais me fascinou no livro. Amizade, competição, inveja, amor. São tantos e tão complexos os sentimentos que compõe uma relação entre duas mulheres. Outro aspecto inegável é a mestria com que consegue levar-nos a um bairro popular napolitano típico, fazendo-nos sentir um dos moradores, vivendo entre tão ricas personagens, acompanhando o seu desenvolvimento pessoal e social, como qualquer vizinho faria.
Fiquei curiosa e vou querer saber mais. Cheira-me que a Elena Ferrante não é uma paixão fugaz, é um gosto adquirido, daqueles que ficam para a vida.
"It’s not really a measure of mental health to be well adjusted in a society that is very sick."
The OA, uma das grandes novidades da Netflix, primeiro estranha-se, depois entranha-se. Começamos sem qualquer noção do que se trata. Alguém que aparentemente foi raptado regressa..muitos anos depois. Incrivelmente perturbada, mas parece querer regressar ao cativeiro. Não pelo raptor, mas pelos outros que lá deixou. Mas quem são esses outros? Onde é que ela esteve? Porque não quer falar sobre o assunto? Não é daquelas séries que seja amor à primeira vista, mas quando nos começam a narrar a história, deixamo-nos levar para um mundo mágico e inexplicável, tentando perceber a fundo quais são as regras. Porque The OA? Têm de ver para descobrir. ;)
"Em plena Guerra Fria, a CIA engendrou um plano, baptizado Jazz Ambassadors, para cativar a juventude de Leste para a causa americana. É neste pano de fundo que conhecemos Erik Gould, pianista exímio, apaixonado, capaz de visualizar sons e de pintar retratos nas teclas do piano. A música está-lhe tão entranhada no corpo como o amor pela única mulher da sua vida, que desapareceu de um dia para o outro. Será o filho de ambos, Tristan, cansado de procurar a mãe entre as páginas de um atlas, que encontrará dentro de uma caixa de sapatos um caminho para recuperar a alegria."
Este foi o meu primeiro contacto com Afonso Cruz e arrisco dizer que poderá ter sido amor à primeira vista. Através de Erik Gould e do seu filho Tristan, o autor consegue dizer o indizível. Talvez por isso me seja tão díficil escrever sobre este livro. Porque não tenho o mesmo dom. Através da sinestesia, da música e da memória, o autor explora os sentimentos e laços entre seres humanos, em diferentes fases da sua vida. Mais do que o pai, capaz de pintar retratos com notas de música, fiquei fascinada com o pequeno Tristan e os seus companheiros. Aqueles que nos acompanham todos os dias, mas que não conseguimos ver. É também profundamente tocante a forma com descreve a experiência do pós-guerra e das dores fantasma que os ex-combatentes levam consigo. E como explora o acto da criação, na figura de um psicopata sádico e perturbado. Não é um livro fácil. Senti-o como uma pintura abstracta, à qual vamos acrescentando pormenores sempre que a olhamos, uma e outra vez. Não pode ser apreendida à primeira. Porque é complexa. Como as pessoas e os sentimentos entre elas.
Para terminar deixo-vos o meu excerto favorito:
"Até onde podemos esticar o amor? Até à pele do outro ou mais longe? Será possível que atravesse o tempo, o espaço, que voe por cima do deserto jordano e atravesse o Índico e suba o Hindukush e penetre na boca do Vesúvio, será possível que se estenda para lá da vida, que voe pelo cosmos como aqueles cometas solitários que deambulam milhões de anos numa solidão infinita e silenciosa? Talvez seja isso tudo, e mais ainda, talvez seja possível enfiá-lo numa garrafa e atirá-lo ao mar para que navegue até ao destino, que é a espinha do amor, que é o que o faz mover."
"Quando Daniel acredita que está a um passo de resolver o enigma, uma conjura muito mais profunda e obscura do que jamais poderia imaginar planta a sua rede das entranhas do Regime. É quando aparece Alicia Gris, uma alma nascida das sombras da guerra, para os conduzir ao coração das trevas e revelar a história secreta da família… embora a um preço terrível."
O Labirinto dos Espíritosencerra a tetralogia O Cemitério dos Livros Esquecidosde uma forma que considero ser memorável. Explicações para histórias antigas, novas informações e segredos relevados sobre os personagens que tanto nos cativaram ao longo desta aventura. Pela mão do narrador e de uma nova personagem incrívelmente fascinante, Alicia Gris.
Apesar de, na minha opinião, ter exagerado na parte final e conclusão da história, Zafon volta a superar-se e a emocionar-nos, deixando-nos agarrados a este imaginário até ao último caracter.
“People don't know that they do that to people when they do the things they shouldn't. Hurtful things are roots,they spread ,branch out, creep under the surface touching other parts of the lives of those they hurt. It's never one mistake, it's never one moment, it becomes a series of moments, each moment growing roots and spurting in different directions. And over time, they become muddled like an old twisted tree, strangling itself and tying itself up in knots.”
O segundo que li da Cecelia Ahern foi este The Marble Collector, nele Sabrina Boggs, a personagem principal descobre uma coleção de berlindes que a leva numa viagem ao passado do pai e a faz reflectir sobre a sua própria vida e ligações afectivas. Fez-me pensar sobre o quão alheados podemos estar relativamente à história das pessoas que são fundamentais na nossa vida e no esforço que deveríamos fazer para entender as motivações e contextos de cada um, colocando-nos na pele do outro. Porque se aprende muito mais a ouvir que a falar. <3
"It’s true I think a woman’s place is eventually in the home, but there isn’t much harm in her having some fun before she gets there."
E pronto. Terminei todos os episódios de Downton Abbey. Queria começar tudo de novo. Custa-me imenso dizer adeus a todas estas personagens às quais me afeiçoei ao longo das temporadas. Como é que vou fazer agora sem as belíssimas tiradas da Dowager Countess of Grantham, Mrs. Violet Crawley, papel desempenhado pela talentosa Maggie Smith? Há alguém por aí a sofrer do mesmo?
Atualização: Nem de propósito. Parece que vai sair um filme sobre Downton Abbey. Praise the lord! :D
"Em Porto Negro, capital da ilha de São Cristóvão, toda a gente conhece Santiago Cardamomo, o bom malandro que trabalha na estiva, tem meio mundo de amigos e adora mulheres, de preferência feias, raramente passando uma noite sozinho."
O Pecado de Porto Negro, escrito por Norberto Morais e Prémio Leya 2013, é uma história das antigas. O malandro e a menina casta, numa cidade onde o pecado vive lado a lado com a rectidão. É um romance de excessos, paixões avassaladoras, mortes horríveis e personagens incríveis. Colorido e rico em sensações, cheiros e sabores faz-nos sobressaltar e emocionar, enquanto bebemos todas as palavras desta desventura amorosa.
"If you don't learn constantly, you don't grow, and you will wither. Too many people wither on the vine. Sure, it gets a little harder as you get older, but new experiences and new challenges keep it fresh."
Que senhora e que exemplo incrível. Iris Apfel. Se não conhecem, não percam tempo. :)