Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

the book keeper

30
Nov16

Song of the Sea

songofthesea.jpg

 

Pattern: Freak Shop 

“Bronagh: My son, remember me in your stories and in your songs. Know that I will always love you, always.”

 

Ora bem, este filme foi das coisas mais maravilhosas que vi nos últimos tempos, digno merecedor de um “IT’S SO FLUFFY I’M GONNA DIE!!”.

 

A história é baseada no mito Celta das selkies, pessoas que na realidade eram focas e cujo canto mágico trazia bem ao mundo. A cena inicial, em que Bronagh,  a mãe, ilustra o quarto do pequeno Ben com lendas irlandesas é de nos deixar logo de rastos. Pois bem, não quero revelar muito, mas contam-nos que em tempos havia um mundo mágico, povoado de personagens incríveis, que aos poucos foram sendo transformados em pedra pela malvada Masha. A técnica da boa da Masha era sugar os sentimentos e assim transformar os seres em pedra. Mas o que é verdadeiramente fascinante, é que a Masha afinal não era má, ela simplesmente não conseguia lidar com o sofrimento do próprio filho e arranjou uma maneira de o aliviar dessas dores. No caminho, claro, como qualquer pessoa que abusa de anti-depressivos, deixa de sentir.  

 

 A ilustração é absolutamente maravilhosa assim como as músicas, os seres mágicos que ficaram presos no reino terrestre, o sotaque e folclore irlandeses. Fiquei absolutamente rendida a esta produção de Tomm Moore e dos estúdios Cartoon Saloon. Ide ver!

25
Nov16

Wild

wild.jpg

 

Art print: Helo Birdie

 

“I knew that if I allowed fear to overtake me, my journey was doomed. Fear, to a great extent, is born of a story we tell ourselves, and so I chose to tell myself a different story from the one women are told. I decided I was safe. I was strong. I was brave. Nothing could vanquish me.” 

 

Comecei a ler o Wild numa altura muito particular da minha vida. Os primeiros capítulos li-os a custo, enquanto sentia que era continuamente socada no estômago. A sério, se estão numa altura complicada, talvez este livro não seja a melhor escolha. Considerem-se devidamente avisados. ;)

Wild é a história real de como a autora decidiu fazer toda a Pacific Crest Trail, sozinha. E isto meus amigos, não é coisa pouca, a PCT começa no Deserto de Mojave e atravessa toda a Califórnia e o Oregon até ao estado de Washington. E esta corajosa fê-la toda, sozinha. 

Porquê? Cheryl não fazia caminhadas por desporto, nem sequer era desportista, não tinha qualquer prática ou experiência no assunto. Esta empreitada foi essencialmente uma purga pessoal, feita por alguém que perdeu a mãe para o cancro, se divorciou e ficou viciada em droga, tudo no mesmo ano. A Cheryl não sabia para onde ir, só sabia que tinha de ir. E foi.

Este é um livro de auto-descoberta, sobrevivência e superação que vos vai deixar angustiados, aterrorizados e depois de todo o percurso, cheios de vontade de dominar o vosso destino e a vossa vida. É um livro incrível à semelhança do feito incrível que o inspirou.

10
Nov16

Ensaio sobre a cegueira*

ensaiosobreacegueira.jpg

 

Artwork: Hisashi Okawa

 

“A cegueira também é isto, viver num mundo onde se tenha acabado a esperança.”

 

Ao ler o Ensaio sobre a cegueira veio-me frequentemente à cabeça uma frase dita por um professor da faculdade, cujo autor não consigo precisar, mas que consistia mais ou menos nisto: a electricidade é o que nos diferencia dos animais, uma vez na escuridão, perdemos todo e qualquer traço de racionalidade. Foi nisto que pensei uma e outra vez enquanto lia esta livro, porque a cegueira, ainda que branca, não é mais do que cairmos na escuridão.

 

Vivemos enquanto seres racionais e comportamo-nos porque tememos ser observados. Comportamo-nos de acordo com aquilo que é aceite. E muito deste pressuposto assenta na ideia, na imagem que construímos para os que nos observam. Quando ninguém vê, nada mais importa, porque não conseguimos julgar e policiar os outros. 

 

Este é um livro brutal que nos sugestiona uma profunda reflexão sobre a humanidade. E é assustador ponderar o que aconteceria se de repente alguém apagasse a luz. Ou se alguém já apagou a luz e a ausência de esperança não é somente uma forma de cegueira voluntária. 

 

*Pareceu-me um livro relevante pós-eleições americanas.De repente, alguém apagou a luz. 

 

09
Nov16

Boa sorte...tudo de bom.

14956628_1145267365560117_2068668369987854613_n.jp

 

Este não é um blog sobre política, mas ninguém pode ou deve ficar indiferente

aos acontecimentos de hoje e ao impacto que terão em todo mundo.

 

Faço minhas as palavras do escritor Valter Hugo Mãe:

"com a vitória de trump, o racismo, o ataque às mulheres, a xenofobia, a homofobia, a estupidez, a ignorância e o deboche são recuperados como legítimos na américa do norte.
acima da lei, o povo escolheu a legitimação do impensável. eu espero que as consequências desta loucura fiquem na américa do norte e que o mundo se segure para não seguir este grotesco exemplo."

08
Nov16

Her

her_spikejonze.jpg

 Pattern: According To Panda

 

“You know, I can feel the fear that you carry around and I wish there was…

something I could do to help you let go of it because if you could,

I don’t think you’d feel so alone anymore.”

 

Estou a ouvir a banda sonora maravilhosa deste filme, a rever mentalmente as cenas, os pequenos pormenores e continuo com uma imensa dificuldade de descrever aquilo que a história de Theodore me fez sentir. Her, realizado por Spike Jonzeé como muito bem descrevem no cartaz a love story. E ao mesmo tempo é tão mais que isso e isso somente.

 

Passa-se no futuro, um futuro bem construído e apresentado, subtil, tão subtil que o encaramos como a evolução natural das coisas e não como um cenário de mudança drástica, saído de um conto de ficção científica. Um futuro onde as pessoas não têm tempo para escrever cartas de amor e existem pessoas cuja função é precisamente escrever essas mesmas cartas e são sublimes a fazê-lo. Um futuro onde desaparecem barreiras físicas, mas surgem outras onde nos encarceramos e distanciamos do mundo, a presença física já não é absolutamente necessária. Talvez o filme seja uma wake up call para estarmos mais presentes, para não nos isolarmos, para não deixarmos que a tecnologia nos isole, mas o que achei verdadeiramente maravilhoso foi o quebrar de todas as barreiras, definições e estereótipos.

 

O amor entre um ser humano e um sistema operativo. É a história entre Theodore e Samantha que me emociona, a forma como crescem e aprendem um com o outro, e como tantas vezes acontece crescem noutras direcções. O desgaste. O sentirmo-nos sozinhos no mundo. A necessidade de olharmos para dentro de nós e procurarmos respostas. De nos sentirmos ligados aos outros. De viver uma e outra vez. De cair e levantar. De seguir em frente e encontrar um sentido para continuar.  Esta história é feita destas e tantas outras coisas para as quais as minhas palavras se esgotam. É preciso sentir. Absorver. Deixar-se levar.

 

Brilhante desempenho de Joaquin Phoenix, brilhante trabalho de cenografia e fotografia e como não poderia deixar de ser...brilhante banda sonora. 

03
Nov16

Crónica do Pássaro de Corda

crónicadopassarodecorda.jpg

 

Pattern: Kai & Sunny

 

“Is it possible, in the final analysis, for one human being to achieve

perfect understanding of another? We can invest enormous time and energy

in serious efforts to know another person, but in the end, how close can we come to that person’s essence? We convince ourselves that we know the other person well,

but do we really know anything important about anyone?” 

 

Há muito que queria ler aquela que é considerada a obra prima do Murakami - Crónica do Pássaro de Corda - um livro que começa de forma banal, com Toru Okada, personagem principal, a decidir deixar a firma de advogados onde é estagiário para passar a ser desempregado a tempo inteiro. Toru e a mulher, Kumiko, editora de uma revista de dietética e alimentação saudável, vivem tranquilos um casamento de quatro anos. Mas a normalidade acaba aqui. Desaparece-lhes o gato, símbolo da sua relação e a partir daí as personagens mais singulares dão entrada na história.

 

Em busca do gato, Toru conhece May Kasahara, uma adolescente de 16 anos totalmente diferente de qualquer estereótipo que possamos ter de um adolescente. Excepto pela insegurança. May coloca as questões mais incríveis e tem também um trabalho muito invulgar, classificar pessoas pelo seu grau de calvíce. Também a propósito do gato, Toru conhece Malta Kano, uma medium que descobre o seu poder na água e Creta Kano, a irmã, uma prostituta da mente. Estão a conseguir acompanhar? Entretanto, Kumiko desaparece para sempre e Toru embarca na viagem da sua vida. Uma viagem ao interior, à solidão, ao mais profundo da mente.

 

Como sempre Murakami é sublime na construção de personagens (como estas que vos apresentei há ainda muitas outras), na interligação das histórias e na forma como todos parecem querer levar-se ao limite para descobrir sabe-se lá o quê. Este livro é tão intenso, perturbador e maravilhoso que tive de respirar fundo e olhar para o tecto durante longos minutos quando terminei, tal era a torrente de emoções que estava a sentir. Não pensem que pertenço a uma história do autor, senti-me mesmo assim. Deixem que o pássaro vos dê corda. Este é um livro no qual vale a pena perderem-se.