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the book keeper

07
Set16

Os Transparentes

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Print: Cozamia

 

“subiu as escadas, chegou com o marido ao terraço, o GaloCamões acordou e veio espreitar curioso, mas como ninguém lhe desse atenção ou sequer olhasse para ele, evitou fazer ruído e voltou ao seu canto 

- deixa-me aqui, por favor

- aqui onde?, não te posso largar assim

- amarra-me aqui nestas antenas, fico aqui na berma, a olhar a cidade

Xilisbaba atou-o a uma antena, deu três nós e sentiu medo por aceder àquele pedido

E se o marido se soltasse?, e se um vento mais forte o visitasse durante a noite?, e se os nós na antena ou mesmo no tornozelo não fossem suficientemente fortes e o marido desatasse a esvoaçar pelos céus de Luanda? 

- ficas bem? tenho medo de te deixar assim, Nato

- fico bem

- tás bem amarrado? 

- estou, sim, Baba: é a saudade que me amarra a esta cidade…”

 

Os transparentes é sobre os Angolanos, corrijo, sobre os Caluandas, sobre aquela maneira de ser muito própria, para o bom e para o mau. Mas principalmente é sobre a saudade, dos tempos, de outro mundo que não aquele em que somos forçados a viver. E é bom desde a primeira à última palavrinha. Descrições tão maravilhosas que sabem e cheiram a coisas boas. E assim de um jeito doce, cheio de ginga, Ondjaki faz duras críticas ao governo angolano, aos camaradas, a uma realidade que está a anos luz da nossa, embora as duas se toquem em pontos fundamentais, a dignidade, o respeito, a humanidade. É difícil ter de fechar o livro e não saber mais sobre toda aquela gente na Maianga que começava a fazer sentir-se família.